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domingo, setembro 25, 2005

Cotidiano

Nada como o silêncio para percebermos a sonoplastia do mundo em que vivemos. As dinâmicas, ritmos e diversidades; que esta nos propõe enquanto espectadores, atores e autores de nossa própria dramaturgia encenada diariamente neste palco chamado metrópole.

Compassada ou descompassadamente, vive-se. De estação em estação de metrô, ouvindo músicas de elevador – em elevadores – ou mesmo levando a vida na flauta... Os repentes da Praça da Sé, os ‘chorinhos do Benedito’ aos sábados, os gritos de ambulantes e feirantes em dias de feira e, até, as musiquinhas da companhia de gás. Buzinas, buzinas e mais buzinas...

Pássaros a piar, ainda um pouco antes do amanhecer. Carros indo e vindo. Crianças indo e vindo da escola. O mesmo ‘samba de uma nota só’ por parte dos maestros de nossa Cidade, Estado, País! A harmonia de alguns – poucos – lugares e a desarmonia de tantos outros.

O movimento da batuta do maestro mostra-nos os quatro pontos cardeais, as quatro regiões de São Paulo: Norte...Sul...Leste...Oeste. E sem nos esquecermos que, dentro deste movimento contínuo, passamos por um quinto ponto – às vezes esquecido ou só marginalizado: o Centro. Onde tudo começou: do nascimento da cidade – ou a estréia deste espetáculo chamado São Paulo de Piratininga – à deterioração da mesma – que não seja o fim da peça, mas sim o fim do primeiro ato!

Dia após dia, ano após ano seguimos dançando sob a mesma opereta: ora felizes e descansados, ora sonolentos e com os pés doendo. O fato é que, não podemos nos deixar sofrer tantas interferências das transmissões diárias. Afinal, isto nos impede de ouvir a sonoplastia do mundo e, às vezes, a única forma capaz de nos fazer voltar a ouvir; é o silêncio!

Sandra Rocha, arquiteta e cenógrafa.

Ago/2005

"Jornal da Praça" n°38 - set/2005


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